Entender como é organizar um evento de grande magnitude foi o que mais me motivou a tirar duas semanas de férias da gestão da Navita para servir como voluntário nas Olimpíadas Rio 2016. Eu queria entender como funciona organizar um evento desse porte. E, claro, viver essa experiência, que eu sabia que seria única.
Sou bem ligado a esportes. Pratico várias modalidades: kitesurf, surf, skate, corrida e mountain bike, além da academia. O esporte está presente no meu cotidiano. Todos os dias pratico alguma atividade e aos finais de semana me dedico ao esporte. É algo que priorizo em minha vida. Estar envolvido no principal evento esportivo do mundo no Brasil era uma experiência que não poderia deixar de viver.
Foram 11 dias no Rio de Janeiro, nove deles dedicados como voluntário nos Jogos Olímpicos. Seis horas de trabalho por dia ao lado dos melhores atletas do mundo. Uma experiência incrível e que me trouxe importantes aprendizados para o dia a dia na Navita.
O principal deles, sem dúvida, foi o valor da organização, do método para o sucesso de qualquer projeto. Eu tinha a curiosidade de como algo dessa magnitude daria certo. É muito grande, são 50 copas do mundo acontecendo ao mesmo tempo, 40 mil voluntários trabalhando. Tudo padronizado, com o mesmo padrão de qualidade, de organização, de entrega.
Um exemplo emblemático para mim durante todos esses dias foi quando o meu coordenador me chamou para dizer que não podia fazer além do que o meu trabalho. Para mim foi difícil porque estou acostumado a fazer as coisas acontecerem. Quem é empreendedor sabe bem disso, estamos acostumados a passar por todas as etapas da empresa, a fazer de tudo um pouco, a por a mão na massa, a bater o escanteio e correr para cabecear. E lá tive que fazer exatamente o meu escopo de trabalho.
Isso aconteceu porque eu estava no lounge dos atletas e a minha missão era garantir que tudo estivesse funcionando bem. Em uma determinada hora eu vi que estava faltando a bebida oficial, pedi abastecimento e fui ajudar a responsável pela reposição a pegar as garrafinhas das caixas e colocar nos displays de bebidas. Algo simples e sem nenhum problema, certo? Errado. Lá você não pode fazer nem a mais nem a menos do que está programado para fazer.
Ela me pediu que eu não a ajudasse, já que essa era uma responsabilidade dela e me explicou que se eu fizesse alguma coisa errada nesse processo, ela poderia ser penalizada e de fato, as poucas garrafas que coloquei, estavam todas fora do padrão exigido.
Ficou claro para mim. Imagina se cada um dos 40 mil voluntários se propuser a ajudar, na boa vontade, mas cometer pequenos erros? O evento todo poderia seria comprometido.
Trazendo essa experiência para o escritório, vejo como isso faz sentido. Acredito que o maior desafio que temos no ambiente corporativo é a definição clara das funções. Cada um ter muito claro qual é sua atuação e assumir a responsabilidade pela entrega. Hoje é muito comum ouvir como desculpa “eu não consegui entregar minha tarefa porque alguém pediu a minha ajuda”. Mas, se cada um fizer muito bem a sua parte, a engrenagem toda funciona.
Parece claro, mas os jogos olímpicos é uma empresa que vem há mais de 100 anos revendo os processos do que deu certo e o que deu errado e planejando com muita antecedência cada edição.
Esse é outro aprendizado importante que trago da competição para ser aplicada nos negócios. Para se chegar ao sucesso é preciso sim ter talento, mas especialmente, muita dedicação, estudo, foco e fazer acontecer. Eu vi atletas que treinaram a vida toda para estar ali, mas que mesmo durante a competição, chegavam às sete horas da manhã para treinar mais.
E vi muito de perto a vitória, participei dela, na verdade. Tive o privilégio de ajudar a trazer para o Brasil três medalhas olímpicas ao fazer parte do time de voluntários da canoagem.
No dia da final em que o Izaquias ganhou a medalha de prata, tive a sorte de ser sorteado para dar o suporte para os atletas brasileiros durante todo o dia de prova. Estive ao lado dele o dia inteiro apoiando em tudo o que ele precisasse. Foi uma grande emoção fazer parte desse feito histórico. E é assim que me sinto, como parte da equipe de canoagem que trouxe três medalhas para o Brasil.
E esse sentimento de pertencimento é outro aspecto que também me chamou muito atenção nos jogos. A organização trabalha o tempo todo para que os voluntários sintam-se engajados e parte do projeto, o que foi fundamental para o sucesso dos jogos. Fazemos muito isso aqui na Navita também diariamente. Todos são responsáveis pelas conquistas e sucesso de nossos projetos. Assim como também pelos fracassos.
E apesar de não ter fisicamente as três medalhas comigo, vou levar para a vida a experiência dessa conquista e de outras que ainda virão. Porque tendo oportunidade de ser voluntário, farei de novo.
Fábio Nunes
Diretor de Produtos e Inovação da Navita