As preocupações com os rumos da economia neste ano não parecem ter afetado o apetite de investidores por fusões e aquisições no Brasil. Segundo um relatório da consultoria PricewaterhouseCoopers antecipado ao Valor, 60 operações foram realizadas em janeiro, o mesmo número registrado no mesmo período do ano passado. Como costuma acontecer, o setor de tecnologia da informação (TI) liderou a fila. Foram 15 transações realizadas no 1º mês do ano, quatro a mais que o número de 2014.
Parte dessas operações é resultado de acordos discutidos no fim de 2014, mas só assinados depois da virada do ano muitas discussões foram adiadas para depois da eleição presidencial. Mas esse comportamento não pode ser considerado um sinal de que o ano será de menos negócios entre as empresas. Pelo contrário. A expectativa da PwC é que haja um aumento significativo no número de operações, de pelo menos 15%, passando de 160.
Na avaliação de Rogerio Gollo, sócio da PwC, o ano de 2015 pode marcar a aceleração da tendência de consolidação do mercado de tecnologia em torno de empresas maiores e mais estruturadas, com fôlego para disputar mercado. Isso seria reflexo direto do aumento da taxa básica de juros (Selic) e do consequente encarecimento do crédito, que torna a vida mais difícil para empresas menores. Outro fator que acelera esse movimento é a necessidade de buscar novas áreas de atuação e aumentar a receita.
A Navita, empresa voltada à área de mobilidade, tem percebido essas duas tendências. Segundo Roberto Dariva, presidente da companhia, desde meados do ano passado vem aumentando o número de empresas que batem à sua porta para tentar buscar um acordo de venda. Com os negócios estrangulados, os empresários estão buscando essa opção para salvar suas companhias.
O problema é que os balanços da maior parte dessas empresas apresentam números muito fracos, o que impede que as negociações avancem. A informalidade e a falta de profissionalização na gestão ainda são problemas nas empresas brasileiras de tecnologia da informação, a maioria delas de pequeno porte.
A Navita pretende fazer aquisições neste ano. Os alvos são negócios que possam complementar seu portfólio, voltado à gestão de custos de telecomunicações nas empresas. “Mas, se encontrarmos algo que não havíamos pensado antes, também podemos investir”, disse Dariva.
Curiosamente, a própria Navita acaba de integrar a lista de operações de fusão e aquisição no Brasil em 2015, só que na outra ponta, recebendo recursos. A companhia recebeu um aporte do fundo DLM Invista, dos executivos da Totvs e da Datasul Paulo Caputo e Jorge Steffens. De acordo com Dariva, os recursos serão usados majoritariamente para o desenvolvimento interno de novos produtos.
Na avaliação de Gollo, da PwC, dinheiro não faltará para investimentos em 2015. “Os fundos de private equity captaram bastante em 2014”, disse. Nesse cenário, afirma, a tendência é que novos aportes aconteçam. Eles já estão vindo. Em janeiro, 40% dos investimentos feitos no Brasil tiveram participação desses fundos. Foi mais que o dobro do percentual registrado em janeiro do ano passado. A atuação dos fundos pode resultar, segundo Gollo, em um movimento de saída de investimentos feitos nos últimos dois ou três anos.
Os investimentos de empresas estrangeiras no Brasil podem crescer ao longo do ano. Em janeiro, os estrangeiros assumiram a liderança do mercado de fusões e aquisições no país, passando a responder por 57% de todas as operações realizadas. No ano passado, esse percentual foi de 43%.
“O mercado é grande, com muitas opções a explorar. E o dólar barato deixa os preços mais atrativos”, disse Micky Malka, fundador do fundo de investimento americano Ribbit Capital. Em janeiro, o Ribbit fez seu segundo aporte na companhia iniciante Conta Azul, criadora de um sistema de gestão para pequenas empresas que é acessado pela internet.